Ensaios Céticos, de Bertrand Russell
“É uma propensão natural infortúnio à malignidade de alguém. Quando os preços aumentam, o fato é devido ao especulador; quando os salários diminuem, culpa-se o capitalista. O leigo não questiona a ineficácia do capitalista no momento que os salários sobem, assim como a do especulador quando os preços caem. Tampouco ele percebe que os salários e os preços sobem e baixam ao mesmo tempo. Se ele for um capitalista, desejará que os salários declinem e os preços subam; se for um assalariado almejará o oposto. Quando um especialista em monetarismo tenta explicar que os especuladores, os sindicatos e os empregados comuns pouco têm a ver com a questão, ele irrita todas as pessoas, do mesmo modo que o homem que lançou dúvida sobre as atrocidades praticadas pelos alemães.”
“Na religião e na política, ao contrário, embora ainda não haja nada que se aproxime do conhecimento científico, todos consideram como de rigueur ter uma opinião dogmática apoiada pela inanição, a prisão e a guerra, infligidas, além de estar cuidadosamente sob vigilância para evitar uma argumentação competitiva de qualquer opinião diferente. Se pelo menos os homens pudessem ser conduzidos a ter uma estrutura mental agnóstica instigante sobre esses assuntos, nove décimos dos males do mundo moderno seriam debelados. A guerra se tornaria impossível, porque cada lado perceberia que ambos os lados poderiam estar errados. A perseguição cessaria. A educação visaria a expandir a mente, sem reprimi-la. Os homens seriam escolhidos para trabalhar por causa de sua adequabilidade, e não por seguirem domas irracionais daqueles que estão no poder. Assim, só a dúvida racional, caso pudesse ser fomentada, seria suficiente para trazer a felicidade e prosperidade universais.”
“A educação elementar em todos os países adiantados está nas mãos do Estado. Alguns ensinamentos são reconhecidos como falsos pelos funcionários que os prescrevem, e muitos outros são considerados enganosos, ou de alguma forma muito duvidosos, por todas as pessoas não preconceituosas. Como, por exemplo, o ensino de história. Cada nação deseja apenas a autoglorificação nos livros escolares de história. Quando um homem escreve sua autobiografia espera-se que ele demonstre uma certa modéstia; mas quando uma nação escreve sua autobiografia não há limite para jactar-se ou vangloriar-se.
[...]
Tanto antes quando depois, um dos principais objetivos da educação nos Estados Unidos é converter a mistura heterogênea de crianças imigrantes em “bons americanos”. Aparentemente, não ocorreu a ninguém que um “bom americano”, assim como um “bom alemão’ ou um “bom japonês” possa ser, pro tanto, um ser humano de má índole. Um “bom americano” é um homem, ou uma mulher, imbuído da crença de que a América é o melhor país da terra e que deve sempre ser apoiado entusiasticamente em qualquer conflito. É possível que esses objetivos sejam verdadeiros; neste caso, um homem racional, não teria conflito algum com eles. Mas se eles são verdadeiros, devem ser ensinados no mundo inteiro, não apenas na América. É uma circunstância suspeita que tais finalidades não tenham crédito fora do país onde são glorificadas. Enquanto isso, toda a máquina do Estado, nos diferentes países, dedica-se a fazer com que crianças indefesas acreditem em proposições absurdas, com vistas a torná-las propensas a morrer em defesa de interesses malévolos com a impressão de que estão lutando pela verdade e pelo direito. Essa é apenas uma das inumeráveis maneiras das quais a educação é planejada, não para oferecer um conhecimento verdadeiro, mas para tornar as pessoas dóceis à vontade de seus senhores. Sem um sistema elaborado de embuste nas escolas elementares seria impossível preservar a camuflagem da democracia.”
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